NEW SOCCER - 2114
30 de julho de 2114.
O editor de uma das principais revistas de entretenimento esportivo do mundo solicita a um jornalista (então chamado de “Producent”) do sul do Brasil, que elabore uma matéria sobre uma das equipes que decidirão o título mundial de New Soccer, que é como será conhecido o futebol no século 22.
1.
[ORIGINAL MESSAGE]
Los Angeles, (Confederacion Americana) July.30. 2114.
FRON : Editorial Board - Latin American Division New Soccer World League Magazine ™.
TO: Mr. LIGHTHOUSE, Antonio - Affiliated Scribbler - Ref.nº 18102005.55.41.-BR-WD.
SUBJECT: Text "futebol old school" - History of Curitiba Southern AgroBank Soccer (CSA.Soccer) ™
Caro Mr. Lighthouse, Antonio:
Consultando nosso banco de dados encontramos referências suas como Especialista em História Pós – Moderna, com artigos já publicados sobre o New Soccer ™e Interações Urbanas. Tais atributos, somados à sua declarada origem em Curitiba - Brazil, West Dept, indicam Vossa Senhoria como potencial colaborador da edição especial sobre os jogos decisivos do Titannium Scoop Soccer World Championship™ – Temporada 2113/114, discorrendo especificamente sobre uma das equipes finalistas, o Curitiba Southern AgroBank Soccer (CSA.Soccer) ™.
O Comitê Editorial solicita que lhe seja enviado, na forma e prazos compactuados, um texto que aborde aspectos particulares e regionais do Curitiba Southern AgroBank Soccer (CSA.Soccer) ™ para eventual aproveitamento.
Lembro que não serão aceitas análises técnicas ou opiniões que, mesmo remotamente, possam influenciar as Bolsas de Apostas e de Valores. Espera-se um relato com viés intimista, que apresente aos nossos assinantes do mundo inteiro um pouco da história e das origens do CSA.Soccer™ , contada por alguém nativo do mesmo território (Curitiba - Brazil, West Dept). Paralelamente, se faz necessário enaltecer o orgulho regional dos consumidores, para que se crie um ambiente favorável ao mercado varejista de produtos franqueados pela NewSoccer League ™.
Por determinação contratual, reiteramos que o texto deverá ser enviado conforme Protocolo FRE-65, via NoteClass, com acesso aberto no modo "REW", e será submetido à análise sem garantia de publicação e créditos ao Producent. Ressalte-se que o conteúdo poderá ser editado a critério do Comitê Editorial.
Atenciosamente:
Mr. Rodriguez, Avelar Symg. CPO – Latin America New Soccer World League Magazine™.
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2.
[REPLY]
Camboriú Penha Beach (Brazil WD), Set.01.2114.
FRON: Mr. LIGHTHOUSE, Antonio - Affiliated Scribbler - Ref.nº 18102005.55.41.-BR-WD.
TO : Comitê Editorial Latin American Division Revista New Soccer World League Magazine™. Mr. RODRIGUEZ, Avelar Symg.
SUBJECT: Text "futebol old school" - History of Curitiba Southern AgroBank Soccer (CSA.Soccer) ™.
Respeitáveis membros do Comitê,
Honrado e surpreendido pelo convite, espero corresponder à expectativa de trazer aos seus milhões de assinantes um pouco da história do "futebol" em minha província de origem (Curitiba - Brazil, West Dept) , nessa festiva ocasião em que, pela primeira vez, um team de minha cidade de origem disputará um título mundial do querido “esporte bretão”, como era chamado nas origens o nosso NewSoccer™ .
Segue abaixo o texto que submeto à apreciação.
[INÍCIO DO TEXTO]
Assinantes admiradores do NewSoccer™: Saudações de um entusiasmado fan nascido em Curitiba – Brazil, origem do C.S.A.Soccer™.
Já tive a honra de produzir conteúdo para a NewSoccer World League Magazine™, mas é inédito e emocionante que o assunto seja justamente aquilo que chamavam no século 21 de "time do coração".
Explico: sou um fan daquela que é - nesta temporada de 2113/14 - uma das duas melhores equipes de NewSoccer ™ do planeta Terra: o Curitiba Southern AgroBank Soccer (CSA.Soccer) ™, que dentro em breve jogará o primeiro game decisivo do Titannium Scoop Soccer World Championship™ - 113/114 contra o Energie Cottbus German Soccer (ECGeS). ™ A afeição pelo time de sua cidade tem relação com a ideia de “time do coração”, conforme se dizia no século 21. Mas "time do coração" era algo maior.
Vou contar um pouco sobre o CSA.Soccer™ de Curitiba, não abordando análises técnicas ou táticas, nem estatísticas de cada jogador ou previsões lógico/matemáticas. Deixo isso para os especialistas em S-Técnica e para os bons aplicativos específicos das várias plataformas, os melhores disponíveis aqui mesmo na NewSoccer League Magazine Store™. Também não me interessam as bolsas de apostas e as cotações de cada equipe na Bolsa Mundial de Valores (World Stock Exchange™).Não mesmo.
[Aliás, meu Mental Health Therapist. recomendou que eu me abstivesse de apostas por um bom tempo].
O que pretendo fazer é um resumo pessoal sobre as origens do atual Curitiba Southern AgroBank Soccer (CSA.Soccer)™ e sobre o que significava "torcer" para um time de "futebol" (soccer) nos séculos 20 e 21.
Convido os assinantes para uma viagem no tempo diferente. Não guiados pelos comuns Bancos de Dados Históricos, nem pelas Inserções Virtuais Ativas™, ambas corriqueiras e disponíveis a qualquer pessoa. Seremos conduzidos de modo exclusivo por um guia particularmente confiável e autêntico: meus arquivos de família.
[Sim, sou daqueles que reservam um bom espaço em sua Personal Cloud para a história dos antepassados, afinal, minha produtividade se concentra em Postmodern Age History]
Nunca fui saudosista dos tempos pré-tecnológicos, não sou o tipo de pessoa que faz jornadas temáticas interagindo com fatos e objetos antigos nem viagens virtuais ao Rio de Janeiro de 1985. Mas o “soccer” romântico dos séculos 20 e 21 passou a atrair minha atenção desde quando senti que havia algo de especial nos jogos de antigamente. Sim, os campeonatos eram desorganizados, não se usava nem a mais básica tecnologia, a arbitragem era amadora, as quadras ainda eram de gramados vegetais... Como posso então achar isso interessante? Não tenho como explicar. Apenas sinto que havia uma “alma”, algo ancestral e autêntico que unia as pessoas envolvidas em torno de uma bola de "futebol".
Comecei a descoberta da alma do soccer antigo no ano de 2083, quando meu avô mostrou-me um antigo baú de alumínio em que estavam cuidadosamente guardados objetos e arquivos digitais dele e do pai dele. Como naquele ano eu estava ingressando na Norwegian University of Science and Technology, para cursar o Grau 4 em Excellence - Postmodern Age History, meu velho avô achou que eu me interessaria pelos registros. Dei uma olhada superficial no baú e, confesso que pareceu não haver algo importante naquelas imagens impressas e velhos cubos de mídia. Mais por respeito do que por interesse providenciei cópias dos arquivos para um canto qualquer de minha Personal Cloud, e lá os deixei.
O tempo passou, conclui os estudos e comecei minha vida profissional. Até que um dia, já como Producent especializado em História da Pós-Modernidade, resolvi catalogar meus arquivos e decidi enfim aventurar-me naquele material, abrindo uma janela para o passado familiar.
Na tranquilidade de um Eco Resort no Território Amazônico Oriental comecei com alguma expectativa a análise dos arquivos. Descobri cenas da infância de meu avô e de outros parentes na pitoresca cidade de Curitiba do século 21. Na verdade, havia pouco material inédito para mim. Algumas lembranças muito emocionantes... Mas lá estava também um arquivo intitulado "FUTEBOL". Meus olhos brilharam... “FUTEBOL”, em português do século 21, era como chamavam no Brazil o esporte do qual se originou o atual NewSoccer™. Ansioso, converti os arquivos para mídia 4D e os tesouros começaram a aparecer: vídeos dos "estádios", (locais dos jogos), do público(“torcidas”), o jogo, a confusão causada pelo oceano de automóveis movidos a petróleo...Mergulhei nos primeiros anos do século 21.
Descobri - transformados em pulsos quânticos - quase que misturados com registros familiares, muitos fragmentos da história do “Curitiba Futebol Clube”, o "time do coração" de meu avô e bisavô, e um dos antepassados do atual C.S.ASoccer™.
"Time do coração", que conceito mais estranho para nós de hoje. Parece-nos irracional que as pessoas considerassem uma equipe de entretenimento esportivo como objeto de sua afeição íntima. Naqueles tempos as pessoas tinham seu "time" como uma espécie de tradição familiar. Os símbolos do “clube” eram objetos cuja devoção beirava a religiosidade. Os catálogos históricos são fartos em mostrar objetos prosaicos do dia a dia com os símbolos (escudo, logotipo) de times de futebol do clã (embora existissem casos em que parentes eram adeptos de times diferentes, aparentemente sem conflitos). Acreditem cidadãos do século 22: havia real angústia quando um “time do coração” perdia. Esse comportamento que, não raro, poderia calhar em violência física já foi chamado de “idolatria esportiva" por estudiosos do século passado.
Os "templos" dessa idolatria eram os chamados "estádios" (palavra advinda do grego clássico, significando algo como “local de competições”. São os ancestrais das Arenas). As pessoas sentavam nas "arquibancadas" (assentos), para assistir a uma "partida" (game) de duas etapas de 45 minutos, com um intervalo de 15 minutos. A visão era limitada sem acesso às imagens customizadas ou sistemas auxiliares de entretenimento ativo. Sim, os "estádios" eram somente locais para sentar e ver os jogos passivamente. Não existiam eventos preliminares nem opções de diversão integradas o que para nós parece muito pouco quando comparado às atuais jornadas nas "Multipurposes Arenas" (eu mesmo já fiquei uma semana antes e uma depois de um jogo no ArenaFanHotel do Barcelona Ibramovich Solium Soccer ™).
Estranho? E se eu disser que o preço do ingresso equivaleria hoje a W$ 60,00 ? Isso mesmo: sessenta dólares mundiais para ver os 90 minutos do tal "espetáculo". Imaginem que os "estádios" eram utilizados só para isso! Um espaço urbano de grandes dimensões usado uma ou duas vezes por semana não parecia desperdício para nossos antepassados.
[Mas o tempo mostrou que havia sim algo de errado: vieram os déficits continuados, a inviabilidade econômica, o esgotamento e o colapso. Sabendo desse contexto, fica fácil entender o porquê da morte do “futebol” profissional como entretenimento no século 21].
Mas no campo estritamente "esportivo" as coisas também me surpreenderam: comparado ao atual New Soccer™, o jogo antigo nos parece monótono, lento, estático estrategicamente. Os jogadores se movimentavam muito menos (a média de idade dos players era muito mais alta). O espectador atual não se empolgaria com bolas chutadas para o nada, encenações, manobras para "passar o tempo"... Por incrível que nos pareça, era comum as partidas terminarem em "0x0", ou seja: ninguém marcava ponto ! É verdade, a partida terminava sem vencedor. Acrescente-se a isso os bizarros conflitos entre as "torcidas organizadas", que eram facções formadas para lutar contra torcedores rivais. Sim, as pessoas se agrediam fisicamente em nome do seu "time do coração". Há imagens chocantes de combates com mortes e mutilações. O século 21 foi muito peculiar, como sabemos.
Mas a violência não era regra. Meu pai comentava que ele e meu avô iam juntos nos jogos do então "Curityba Futebol Clube", no antigo "Estádio do Alto da Glória”, em pleno centro histórico de Curitiba (para quem conhece a cidade, o estádio era em frente à Igreja Cristã do Alto da Glória, que existe até hoje). Num vídeo datado de 2013, meu pai, então com sete anos, comemorava um "gol" do Curityba contra o outro time da cidade, chamado então de "Paranaense". Quanta diferença!
Mas como aquilo que eu vi nos arquivos de meu velho avô transformou-se tanto?
Eu poderia dissertar como o antigo "futebol" decaiu e morreu aos poucos desde o surgimento do NewSoccer™, mas ninguém descreveu melhor como isso aconteceu na antiga Curitiba do que o e-book "O Futebol que Não Existe Mais"©, compilado pelo "Collective Unofficial" em 2065, uma obra clássica da história do futebol local, da qual eu reproduzo um fragmento, com a devida autorização:
“O Futebol que Não Existe Mais”, [Copyright 234-Y-76-DER-9876/96G/ 2065 - original escrito em português-br, linguagem adaptada aos dias de hoje].
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Na década de 2020 o "futebol" estava em notável decadência. As competições oficiais passavam por uma crise na Velha Europa, empobrecida por sucessivas recessões econômicas. Na América Latina, a desorganização, a violência e os ingressos caros afastavam o público, que descobria outras formas mais prazerosas e baratas de entretenimento. Nos Estados Unidos, então maior mercado do mundo, o "soccer" não empolgava o público, apesar das muitas tentativas da Confederação Mundial. O Japão havia vencido as "Copas do Mundo" de seleções nacionais de 2018 e 2022, e a China a edição de 2026. Atraídos pela riqueza asiática, e fugindo da crise, alguns clubes tradicionais ingleses, alemães, espanhóis e italianos abriram franquias de sucesso na China, Hong Kong, Cingapura e Japão. Com o tempo, essas franquias superaram as matrizes e garantiram a sobrevivência de suas "grifes", o que fez com que times asiáticos, em especial os chineses, dominassem as disputas internacionais.
Mas em todo o resto do mundo o "futebol" profissional só piorava como business. As novas gerações não se empolgavam com temporadas confusas e mal organizadas, e preferiam "torcer" para clubes do exterior, que disputavam a "Copa Mundial de Clubes". O público não se renovava, os estádios ficaram vazios e insustentáveis. Poucos se dispunham a assistir jogos "ao vivo". Num artigo de julho de 2025, um veterano jornalista (1) de Curitiba dizia:
"é impressionante o mar de cabeças grisalhas que vemos nos estádios. Não se veem jovens, e quem avistar uma criança de seus doze anos vestindo a camisa de um time local pode se considerar um afortunado" (WebJournal Voice Cox, 07/2025).
No Brasil da década de 2030, cerca de 70% dos clubes haviam fechado ou abandonado o futebol profissional. Aqui em Curitiba não foi diferente. Só os clubes "Curityba" e "Paranaense" ainda resistiam na disputa da decadente Liga Brasileira, mas apenas como coadjuvantes. O outro clube da cidade, o antigo "Pinheiro Clube" havia sido incorporado pelo "Paranaense" em 2035, após uma fracassada tentativa de ser uma franquia do "Zenit Penzy" da Rússia.
O cenário era desolador: apenas cinco clubes brasileiros ainda eram superavitários, à custa de patrocínios multinacionais, e se revezavam nas vitórias do "Campeonato Brasileiro" (Itaquera /Unifever; Escot -São Paulo Vacancy; Brasiliense/OATS; Santos City / Lloyd -Sheffer e Praia do Flamengo/MGM3 Rio.
Longe do Brasil, nos Estados Unidos (Confederação Americana), em 2026, alguns empresários ítalo-americanos, liderados pelo lendário Franco Blacksmith, criaram a New Soccer League (NSL), que transformou o tedioso "old soccer" em um esporte-espetáculo completamente inédito.
Franco e seu sócio Van der Philiph criaram um novo jogo com regras próprias e uma dinâmica muito diferente do antigo jogo de "futebol", mesclando princípios de "futebol de salão", voleibol e basquetebol, ainda incorporando artifícios próprios do entretenimento de massas. Ao invés dos grandes campos de grama natural, vieram as quadras de piso plástico/emborrachado, com 70% do tamanho antigo; a bola - antes somente um artefato inerte, virou um aparato eletrônico/sensorial sofisticado. Surgiu a arbitragem eletrônica, os tiros livres após a 5º falta coletiva, o lateral com os pés, o fim do impedimento, as substituições temporárias, o avanço penalizador, o “double point” e outras inovações.
Em apenas cinco anos(2026 a 2031), a New Soccer League (NSL) alcançou um sucesso comercial absoluto nos Estados Unidos, rivalizando com os clássicos beisebol e basquetebol. O público e os patrocinadores viram potencial naquela nova Liga que empolgou inicialmente as cidades latinas e que logo ganhou todo o país. Foi um passo para a NSL conquistar toda a Confederação Americana; a Comunidade Europeia, a Liga Afro-Asiática e, por último a Comunidade Russa.(...)
No Brasil de 2029 o então "Campeonato Brasileiro" foi disputado por apenas por 10 clubes. Os únicos que ainda tinham condições de sobrevivência. Mas as coisas ainda piorariam: a temporada seguinte seria disputada somente pelos "Cinco Grandes". Até que em março de 2030, o antigo clube "Enseada de Botafogo" da cidade do Rio de Janeiro, presidido pelo mitológico ex-atleta Jefferson Galvez, iniciou um movimento para aderir ao "novo esporte" da New Soccer League (NSL). Criou-se assim a Liga Brasileira de New Soccer, uma franquia da NSL. Estava consolidada a ruptura com o antigo "futebol".
Após o "Enseada de Botafogo/ Repson" outros clubes brasileiros aderiram à NSL/Brazil, cansados de prejuízos e seduzidos pela estrutura da franquia norte-americana. Assim, com um maciço investimento de empresas chinesas e coreanas, surgiram já em 2031: Palestra-Parma, Sport Nordeste Tur, Galo de Minas Vale, Internacional-Patagonian Oil e Vitória/Itaipu.
Organizou-se o primeiro campeonato em 2032 (BrazilianCup-32/33), sendo vencedor justamente o Enseada de Botafogo, já transformado em Kraft -Botafogo (atual Kraft Soccer Botafogo Rio). Em 10 anos, já eram 20 equipes que disputavam o NSL/Brazil.
As duas equipes de Curitiba também aderiram, surgindo então em 2036 o Curitiba Atletic FOX Soccer (fusão dos antigos Curityba Futebol Clube e Paranaense Clube 1924).
Em 2039 o Curitiba Atletic FOX Soccer mudou de nome para "Curitiba AgroRailway Soccer"sendo campeão da Brazilian Cup das temporadas 2041/42 e 2044/45).
Com a saída de tradicionais "clubes", o "Campeonato Brasileiro" agonizou até seu fim oficial em 2040. O antigo jogo de futebol foi, a partir de então, relegado ao amadorismo, como em suas origens remotas. Ainda hoje [2065] há equipes que disputam torneios comunitários do antigo jogo, mas sem nenhum resquício da opulência dos anos dourados de antigamente. As principais agremiações que mantém o clássico "futebol" em Curitiba são o "Trentino Calccio", que joga em um 'estádio" com capacidade para mil e quinhentas pessoas em Colombo District, e o "Internacional Futebol" que mantém um "estádio" para mil pessoas no Industrial District Campo Largo . Mas não é difícil encontrar nos afastados Distritos Não Prioritários, crianças e jovens praticando o antigo "futebol" de modo descompromissado. Um fato admirável, considerando que bolas e materiais são confeccionados artesanalmente, (pois as grandes SportsBrands há pelo menos 20 anos pararam de fabricá-los). É fantástico notar a empolgação nos olhos daquelas crianças pobres. Ressuscitará o "futebol" um dia ?(...)
(1) [nota do tradutor: "jornalista é um termo antigo que se referia à profissão destinada a captar e produzir notícias nos veículos de divulgação de antigamente, algo parecido com o atual Producent] .
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Voltando ao nosso tempo e tentando responder a pergunta dos escritores de 2065 sobre o possível ressurgimento do “futebol”, posso dizer que atualmente, em pleno ano de 2113, há notícias de Monitores Sociais, dando conta da prática do velho esporte em distritos periféricos da African Dept e do South América Dept., especialmente entre os Workers C3 e C4. Também há relatos certificados confirmando a existência de torneios nas colônias penais de Alto Xingú e Atacama, bem como foram reconhecidas mais de cem Comunidades de Interesse Compartilhado sobre o “futebol ancestral” na Rede Mundial.
Não seria errado dizer que o futebol nunca morreu.
Esse mergulho fez com que eu percebesse um vislumbre da alma do antigo soccer, e por isso abateu-se sobre mim uma estranha nostalgia de algo que não vivi. Aquele jogo tão simples e tão suscetível às fraquezas humanas, com seus defeitos, conflitos e injustiças, me faz lembrar a sociedade humana do jeito que ela sempre foi. Qualquer um podia jogar futebol. Bastava uma bola (ou algo parecido com uma), um pequeno espaço e só. Crianças jogavam com bolas de meia ou embalagens de refrigerante vazias. Simples, não?
E nós, caros assinantes, o que precisaríamos para jogar hoje o NewSoccer™ se assim desejássemos ? Resposta: um protocolo de procedimentos, incluindo frequentar um clube franqueado, ser assistido por profissional registrado na NSL, adquirir todo o equipamento individual nas lojas oficiais, submeter-se a exames periódicos para evitar responsabilizações jurídicas ao Clube, assinar contratos de associação... etc. Muitos dólares depois, provavelmente concluiríamos que o jogo é complicado e caro demais para amadores. Nosso equipamento seria descartado na logística reversa da NSL Store™ e voltaríamos humilhados para um Health Club ordinário.
Acho que algo de valioso se perdeu com o tempo na medida em que as coisas ficaram mais racionais e menos emotivas, e não foi só no "soccer". Não existem mais “times do coração”. Não há “alma” nos adeptos. Só entretenimento e negócios. Tudo mudou, mas acho que dentro de nós ainda existe um resquício daquilo que nos fazia sentir parte de uma comunidade em "batalha" contra "os outros" (cada século com seus mecanismos de agregação combativa). Quem sabe um retorno às origens nos faria bem? Que tal pessoas se reunindo em torno de uma equipe só pelo prazer de uma competição sadia, de batalhas com regras simples e sem sangue? [Não esqueço o olhar de empolgação das crianças que “torciam” com orgulho para seus “times” nos vídeos do baú de meu avô].
Sei que nos últimos 100 anos os valores e costumes da sociedade mudaram muito. É impossível cogitar que novamente existirá uma ligação afetiva entre os Soccer Fans e uma das equipes competidoras. Como sentir afeição por uma empresa? Como sentir-se parte de uma equipe que muda de nome a cada três ou seis anos ou entristecer-se quando a corporação perde um jogo para outra? [Não se consideram passionais legítimos os sentimentos advindos de ganhos e perdas nas Bolsas]. Então, quem sabe o velho futebol ressurja, com seus defeitos e virtudes, tão humanos?
Certamente estou muito distante da proposta inicial desse artigo, fato pelo qual me desculpo. Mas não tenham dúvidas caros assinantes que nós aqui do Brazil South Dept. – South America estamos ansiosos para que chegue logo o dia 08 de setembro de 2114, quando ocorrerá na novíssima "Camboriú Beach FOX-Wing Arena™" o primeiro jogo dos playoffs do CSA.Soccer™ (que atualmente é patrocinado por um banco, mas já trouxe em seu nome mineradoras, companhias de seguro e resorts, só para citar os mais recentes) contra o poderoso tricampeão mundial Energie Cottbus German Soccer™ (ex Staffel Crutts German Soccer). Prova disso é o sucesso total das cotas visuais já negociadas e dos recordes regionais nas bolsas. Creio que os fans do mundo inteiro vão apreciar o desenvolvimento do jogo, a disputa técnica e a habilidade dos mais bem treinados jogadores do mundo em busca de um título para nós inédito. Aliás, as lojas da NSL já estão abastecidas com os melhores produtos franqueados dessa decisão única.
Mas, sinto muito dizer, não haverá nem fração ínfima da emoção que os antigos "torcedores" sentiam quando seus times do coração entravam em campo sob uma chuva de papel picado. Não mesmo.
Curitiba,WD - Brazil, em 01 de Setembro de 2114.
[FIM DO TEXTO]
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3.
[REJOINDER]
Los Angeles, (Confederacion Americana) Dec.31. 2114.
FRON : Editorial Board - Latin American Division New Soccer World League Magazine ®.
TO: Mr. LIGHTHOUSE, Antonio - Affiliated Scribbler - Ref.nº 18102005.55.41.-BR-WD.
SUBJECT: Text "futebol old school" - History of Curitiba Southern AgroBank Soccer (CSA.Soccer)®
Caro Mr. Lighthouse, Antonio:
Agradecemos sua colaboração e informamos que seu texto encontra-se em nossa base de conteúdo para eventual aproveitamento editorial no futuro, caso em que - na forma legal - Vossa Senhoria será devidamente comunicado e remunerado. Outrossim, conforme Regulação nº 345/2097- RM, após o prazo de 02 (dois) anos a partir desta Comunicação, o produto a nós oferecido fica legalmente liberado de vínculo com a New Soccer World League Magazine™. /Não responder a essa mensagem/. Atenciosamente. Mr. Rodriguez, Avelar Symg. CPO – Latin America.
------- fim da mensagem -------------
Faas_Rezrl
30 de julho de 2114.
O editor de uma das principais revistas de entretenimento esportivo do mundo solicita a um jornalista (então chamado de “Producent”) do sul do Brasil, que elabore uma matéria sobre uma das equipes que decidirão o título mundial de New Soccer, que é como será conhecido o futebol no século 22.
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[ORIGINAL MESSAGE]
Los Angeles, (Confederacion Americana) July.30. 2114.
FRON : Editorial Board - Latin American Division New Soccer World League Magazine ™.
TO: Mr. LIGHTHOUSE, Antonio - Affiliated Scribbler - Ref.nº 18102005.55.41.-BR-WD.
SUBJECT: Text "futebol old school" - History of Curitiba Southern AgroBank Soccer (CSA.Soccer) ™
Caro Mr. Lighthouse, Antonio:
Consultando nosso banco de dados encontramos referências suas como Especialista em História Pós – Moderna, com artigos já publicados sobre o New Soccer ™e Interações Urbanas. Tais atributos, somados à sua declarada origem em Curitiba - Brazil, West Dept, indicam Vossa Senhoria como potencial colaborador da edição especial sobre os jogos decisivos do Titannium Scoop Soccer World Championship™ – Temporada 2113/114, discorrendo especificamente sobre uma das equipes finalistas, o Curitiba Southern AgroBank Soccer (CSA.Soccer) ™.
O Comitê Editorial solicita que lhe seja enviado, na forma e prazos compactuados, um texto que aborde aspectos particulares e regionais do Curitiba Southern AgroBank Soccer (CSA.Soccer) ™ para eventual aproveitamento.
Lembro que não serão aceitas análises técnicas ou opiniões que, mesmo remotamente, possam influenciar as Bolsas de Apostas e de Valores. Espera-se um relato com viés intimista, que apresente aos nossos assinantes do mundo inteiro um pouco da história e das origens do CSA.Soccer™ , contada por alguém nativo do mesmo território (Curitiba - Brazil, West Dept). Paralelamente, se faz necessário enaltecer o orgulho regional dos consumidores, para que se crie um ambiente favorável ao mercado varejista de produtos franqueados pela NewSoccer League ™.
Por determinação contratual, reiteramos que o texto deverá ser enviado conforme Protocolo FRE-65, via NoteClass, com acesso aberto no modo "REW", e será submetido à análise sem garantia de publicação e créditos ao Producent. Ressalte-se que o conteúdo poderá ser editado a critério do Comitê Editorial.
Atenciosamente:
Mr. Rodriguez, Avelar Symg. CPO – Latin America New Soccer World League Magazine™.
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[REPLY]
Camboriú Penha Beach (Brazil WD), Set.01.2114.
FRON: Mr. LIGHTHOUSE, Antonio - Affiliated Scribbler - Ref.nº 18102005.55.41.-BR-WD.
TO : Comitê Editorial Latin American Division Revista New Soccer World League Magazine™. Mr. RODRIGUEZ, Avelar Symg.
SUBJECT: Text "futebol old school" - History of Curitiba Southern AgroBank Soccer (CSA.Soccer) ™.
Respeitáveis membros do Comitê,
Honrado e surpreendido pelo convite, espero corresponder à expectativa de trazer aos seus milhões de assinantes um pouco da história do "futebol" em minha província de origem (Curitiba - Brazil, West Dept) , nessa festiva ocasião em que, pela primeira vez, um team de minha cidade de origem disputará um título mundial do querido “esporte bretão”, como era chamado nas origens o nosso NewSoccer™ .
Segue abaixo o texto que submeto à apreciação.
[INÍCIO DO TEXTO]
Assinantes admiradores do NewSoccer™: Saudações de um entusiasmado fan nascido em Curitiba – Brazil, origem do C.S.A.Soccer™.
Já tive a honra de produzir conteúdo para a NewSoccer World League Magazine™, mas é inédito e emocionante que o assunto seja justamente aquilo que chamavam no século 21 de "time do coração".
Explico: sou um fan daquela que é - nesta temporada de 2113/14 - uma das duas melhores equipes de NewSoccer ™ do planeta Terra: o Curitiba Southern AgroBank Soccer (CSA.Soccer) ™, que dentro em breve jogará o primeiro game decisivo do Titannium Scoop Soccer World Championship™ - 113/114 contra o Energie Cottbus German Soccer (ECGeS). ™ A afeição pelo time de sua cidade tem relação com a ideia de “time do coração”, conforme se dizia no século 21. Mas "time do coração" era algo maior.
Vou contar um pouco sobre o CSA.Soccer™ de Curitiba, não abordando análises técnicas ou táticas, nem estatísticas de cada jogador ou previsões lógico/matemáticas. Deixo isso para os especialistas em S-Técnica e para os bons aplicativos específicos das várias plataformas, os melhores disponíveis aqui mesmo na NewSoccer League Magazine Store™. Também não me interessam as bolsas de apostas e as cotações de cada equipe na Bolsa Mundial de Valores (World Stock Exchange™).Não mesmo.
[Aliás, meu Mental Health Therapist. recomendou que eu me abstivesse de apostas por um bom tempo].
O que pretendo fazer é um resumo pessoal sobre as origens do atual Curitiba Southern AgroBank Soccer (CSA.Soccer)™ e sobre o que significava "torcer" para um time de "futebol" (soccer) nos séculos 20 e 21.
Convido os assinantes para uma viagem no tempo diferente. Não guiados pelos comuns Bancos de Dados Históricos, nem pelas Inserções Virtuais Ativas™, ambas corriqueiras e disponíveis a qualquer pessoa. Seremos conduzidos de modo exclusivo por um guia particularmente confiável e autêntico: meus arquivos de família.
[Sim, sou daqueles que reservam um bom espaço em sua Personal Cloud para a história dos antepassados, afinal, minha produtividade se concentra em Postmodern Age History]
Nunca fui saudosista dos tempos pré-tecnológicos, não sou o tipo de pessoa que faz jornadas temáticas interagindo com fatos e objetos antigos nem viagens virtuais ao Rio de Janeiro de 1985. Mas o “soccer” romântico dos séculos 20 e 21 passou a atrair minha atenção desde quando senti que havia algo de especial nos jogos de antigamente. Sim, os campeonatos eram desorganizados, não se usava nem a mais básica tecnologia, a arbitragem era amadora, as quadras ainda eram de gramados vegetais... Como posso então achar isso interessante? Não tenho como explicar. Apenas sinto que havia uma “alma”, algo ancestral e autêntico que unia as pessoas envolvidas em torno de uma bola de "futebol".
Comecei a descoberta da alma do soccer antigo no ano de 2083, quando meu avô mostrou-me um antigo baú de alumínio em que estavam cuidadosamente guardados objetos e arquivos digitais dele e do pai dele. Como naquele ano eu estava ingressando na Norwegian University of Science and Technology, para cursar o Grau 4 em Excellence - Postmodern Age History, meu velho avô achou que eu me interessaria pelos registros. Dei uma olhada superficial no baú e, confesso que pareceu não haver algo importante naquelas imagens impressas e velhos cubos de mídia. Mais por respeito do que por interesse providenciei cópias dos arquivos para um canto qualquer de minha Personal Cloud, e lá os deixei.
O tempo passou, conclui os estudos e comecei minha vida profissional. Até que um dia, já como Producent especializado em História da Pós-Modernidade, resolvi catalogar meus arquivos e decidi enfim aventurar-me naquele material, abrindo uma janela para o passado familiar.
Na tranquilidade de um Eco Resort no Território Amazônico Oriental comecei com alguma expectativa a análise dos arquivos. Descobri cenas da infância de meu avô e de outros parentes na pitoresca cidade de Curitiba do século 21. Na verdade, havia pouco material inédito para mim. Algumas lembranças muito emocionantes... Mas lá estava também um arquivo intitulado "FUTEBOL". Meus olhos brilharam... “FUTEBOL”, em português do século 21, era como chamavam no Brazil o esporte do qual se originou o atual NewSoccer™. Ansioso, converti os arquivos para mídia 4D e os tesouros começaram a aparecer: vídeos dos "estádios", (locais dos jogos), do público(“torcidas”), o jogo, a confusão causada pelo oceano de automóveis movidos a petróleo...Mergulhei nos primeiros anos do século 21.
Descobri - transformados em pulsos quânticos - quase que misturados com registros familiares, muitos fragmentos da história do “Curitiba Futebol Clube”, o "time do coração" de meu avô e bisavô, e um dos antepassados do atual C.S.ASoccer™.
"Time do coração", que conceito mais estranho para nós de hoje. Parece-nos irracional que as pessoas considerassem uma equipe de entretenimento esportivo como objeto de sua afeição íntima. Naqueles tempos as pessoas tinham seu "time" como uma espécie de tradição familiar. Os símbolos do “clube” eram objetos cuja devoção beirava a religiosidade. Os catálogos históricos são fartos em mostrar objetos prosaicos do dia a dia com os símbolos (escudo, logotipo) de times de futebol do clã (embora existissem casos em que parentes eram adeptos de times diferentes, aparentemente sem conflitos). Acreditem cidadãos do século 22: havia real angústia quando um “time do coração” perdia. Esse comportamento que, não raro, poderia calhar em violência física já foi chamado de “idolatria esportiva" por estudiosos do século passado.
Os "templos" dessa idolatria eram os chamados "estádios" (palavra advinda do grego clássico, significando algo como “local de competições”. São os ancestrais das Arenas). As pessoas sentavam nas "arquibancadas" (assentos), para assistir a uma "partida" (game) de duas etapas de 45 minutos, com um intervalo de 15 minutos. A visão era limitada sem acesso às imagens customizadas ou sistemas auxiliares de entretenimento ativo. Sim, os "estádios" eram somente locais para sentar e ver os jogos passivamente. Não existiam eventos preliminares nem opções de diversão integradas o que para nós parece muito pouco quando comparado às atuais jornadas nas "Multipurposes Arenas" (eu mesmo já fiquei uma semana antes e uma depois de um jogo no ArenaFanHotel do Barcelona Ibramovich Solium Soccer ™).
Estranho? E se eu disser que o preço do ingresso equivaleria hoje a W$ 60,00 ? Isso mesmo: sessenta dólares mundiais para ver os 90 minutos do tal "espetáculo". Imaginem que os "estádios" eram utilizados só para isso! Um espaço urbano de grandes dimensões usado uma ou duas vezes por semana não parecia desperdício para nossos antepassados.
[Mas o tempo mostrou que havia sim algo de errado: vieram os déficits continuados, a inviabilidade econômica, o esgotamento e o colapso. Sabendo desse contexto, fica fácil entender o porquê da morte do “futebol” profissional como entretenimento no século 21].
Mas no campo estritamente "esportivo" as coisas também me surpreenderam: comparado ao atual New Soccer™, o jogo antigo nos parece monótono, lento, estático estrategicamente. Os jogadores se movimentavam muito menos (a média de idade dos players era muito mais alta). O espectador atual não se empolgaria com bolas chutadas para o nada, encenações, manobras para "passar o tempo"... Por incrível que nos pareça, era comum as partidas terminarem em "0x0", ou seja: ninguém marcava ponto ! É verdade, a partida terminava sem vencedor. Acrescente-se a isso os bizarros conflitos entre as "torcidas organizadas", que eram facções formadas para lutar contra torcedores rivais. Sim, as pessoas se agrediam fisicamente em nome do seu "time do coração". Há imagens chocantes de combates com mortes e mutilações. O século 21 foi muito peculiar, como sabemos.
Mas a violência não era regra. Meu pai comentava que ele e meu avô iam juntos nos jogos do então "Curityba Futebol Clube", no antigo "Estádio do Alto da Glória”, em pleno centro histórico de Curitiba (para quem conhece a cidade, o estádio era em frente à Igreja Cristã do Alto da Glória, que existe até hoje). Num vídeo datado de 2013, meu pai, então com sete anos, comemorava um "gol" do Curityba contra o outro time da cidade, chamado então de "Paranaense". Quanta diferença!
Mas como aquilo que eu vi nos arquivos de meu velho avô transformou-se tanto?
Eu poderia dissertar como o antigo "futebol" decaiu e morreu aos poucos desde o surgimento do NewSoccer™, mas ninguém descreveu melhor como isso aconteceu na antiga Curitiba do que o e-book "O Futebol que Não Existe Mais"©, compilado pelo "Collective Unofficial" em 2065, uma obra clássica da história do futebol local, da qual eu reproduzo um fragmento, com a devida autorização:
“O Futebol que Não Existe Mais”, [Copyright 234-Y-76-DER-9876/96G/ 2065 - original escrito em português-br, linguagem adaptada aos dias de hoje].
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Na década de 2020 o "futebol" estava em notável decadência. As competições oficiais passavam por uma crise na Velha Europa, empobrecida por sucessivas recessões econômicas. Na América Latina, a desorganização, a violência e os ingressos caros afastavam o público, que descobria outras formas mais prazerosas e baratas de entretenimento. Nos Estados Unidos, então maior mercado do mundo, o "soccer" não empolgava o público, apesar das muitas tentativas da Confederação Mundial. O Japão havia vencido as "Copas do Mundo" de seleções nacionais de 2018 e 2022, e a China a edição de 2026. Atraídos pela riqueza asiática, e fugindo da crise, alguns clubes tradicionais ingleses, alemães, espanhóis e italianos abriram franquias de sucesso na China, Hong Kong, Cingapura e Japão. Com o tempo, essas franquias superaram as matrizes e garantiram a sobrevivência de suas "grifes", o que fez com que times asiáticos, em especial os chineses, dominassem as disputas internacionais.
Mas em todo o resto do mundo o "futebol" profissional só piorava como business. As novas gerações não se empolgavam com temporadas confusas e mal organizadas, e preferiam "torcer" para clubes do exterior, que disputavam a "Copa Mundial de Clubes". O público não se renovava, os estádios ficaram vazios e insustentáveis. Poucos se dispunham a assistir jogos "ao vivo". Num artigo de julho de 2025, um veterano jornalista (1) de Curitiba dizia:
"é impressionante o mar de cabeças grisalhas que vemos nos estádios. Não se veem jovens, e quem avistar uma criança de seus doze anos vestindo a camisa de um time local pode se considerar um afortunado" (WebJournal Voice Cox, 07/2025).
No Brasil da década de 2030, cerca de 70% dos clubes haviam fechado ou abandonado o futebol profissional. Aqui em Curitiba não foi diferente. Só os clubes "Curityba" e "Paranaense" ainda resistiam na disputa da decadente Liga Brasileira, mas apenas como coadjuvantes. O outro clube da cidade, o antigo "Pinheiro Clube" havia sido incorporado pelo "Paranaense" em 2035, após uma fracassada tentativa de ser uma franquia do "Zenit Penzy" da Rússia.
O cenário era desolador: apenas cinco clubes brasileiros ainda eram superavitários, à custa de patrocínios multinacionais, e se revezavam nas vitórias do "Campeonato Brasileiro" (Itaquera /Unifever; Escot -São Paulo Vacancy; Brasiliense/OATS; Santos City / Lloyd -Sheffer e Praia do Flamengo/MGM3 Rio.
Longe do Brasil, nos Estados Unidos (Confederação Americana), em 2026, alguns empresários ítalo-americanos, liderados pelo lendário Franco Blacksmith, criaram a New Soccer League (NSL), que transformou o tedioso "old soccer" em um esporte-espetáculo completamente inédito.
Franco e seu sócio Van der Philiph criaram um novo jogo com regras próprias e uma dinâmica muito diferente do antigo jogo de "futebol", mesclando princípios de "futebol de salão", voleibol e basquetebol, ainda incorporando artifícios próprios do entretenimento de massas. Ao invés dos grandes campos de grama natural, vieram as quadras de piso plástico/emborrachado, com 70% do tamanho antigo; a bola - antes somente um artefato inerte, virou um aparato eletrônico/sensorial sofisticado. Surgiu a arbitragem eletrônica, os tiros livres após a 5º falta coletiva, o lateral com os pés, o fim do impedimento, as substituições temporárias, o avanço penalizador, o “double point” e outras inovações.
Em apenas cinco anos(2026 a 2031), a New Soccer League (NSL) alcançou um sucesso comercial absoluto nos Estados Unidos, rivalizando com os clássicos beisebol e basquetebol. O público e os patrocinadores viram potencial naquela nova Liga que empolgou inicialmente as cidades latinas e que logo ganhou todo o país. Foi um passo para a NSL conquistar toda a Confederação Americana; a Comunidade Europeia, a Liga Afro-Asiática e, por último a Comunidade Russa.(...)
No Brasil de 2029 o então "Campeonato Brasileiro" foi disputado por apenas por 10 clubes. Os únicos que ainda tinham condições de sobrevivência. Mas as coisas ainda piorariam: a temporada seguinte seria disputada somente pelos "Cinco Grandes". Até que em março de 2030, o antigo clube "Enseada de Botafogo" da cidade do Rio de Janeiro, presidido pelo mitológico ex-atleta Jefferson Galvez, iniciou um movimento para aderir ao "novo esporte" da New Soccer League (NSL). Criou-se assim a Liga Brasileira de New Soccer, uma franquia da NSL. Estava consolidada a ruptura com o antigo "futebol".
Após o "Enseada de Botafogo/ Repson" outros clubes brasileiros aderiram à NSL/Brazil, cansados de prejuízos e seduzidos pela estrutura da franquia norte-americana. Assim, com um maciço investimento de empresas chinesas e coreanas, surgiram já em 2031: Palestra-Parma, Sport Nordeste Tur, Galo de Minas Vale, Internacional-Patagonian Oil e Vitória/Itaipu.
Organizou-se o primeiro campeonato em 2032 (BrazilianCup-32/33), sendo vencedor justamente o Enseada de Botafogo, já transformado em Kraft -Botafogo (atual Kraft Soccer Botafogo Rio). Em 10 anos, já eram 20 equipes que disputavam o NSL/Brazil.
As duas equipes de Curitiba também aderiram, surgindo então em 2036 o Curitiba Atletic FOX Soccer (fusão dos antigos Curityba Futebol Clube e Paranaense Clube 1924).
Em 2039 o Curitiba Atletic FOX Soccer mudou de nome para "Curitiba AgroRailway Soccer"sendo campeão da Brazilian Cup das temporadas 2041/42 e 2044/45).
Com a saída de tradicionais "clubes", o "Campeonato Brasileiro" agonizou até seu fim oficial em 2040. O antigo jogo de futebol foi, a partir de então, relegado ao amadorismo, como em suas origens remotas. Ainda hoje [2065] há equipes que disputam torneios comunitários do antigo jogo, mas sem nenhum resquício da opulência dos anos dourados de antigamente. As principais agremiações que mantém o clássico "futebol" em Curitiba são o "Trentino Calccio", que joga em um 'estádio" com capacidade para mil e quinhentas pessoas em Colombo District, e o "Internacional Futebol" que mantém um "estádio" para mil pessoas no Industrial District Campo Largo . Mas não é difícil encontrar nos afastados Distritos Não Prioritários, crianças e jovens praticando o antigo "futebol" de modo descompromissado. Um fato admirável, considerando que bolas e materiais são confeccionados artesanalmente, (pois as grandes SportsBrands há pelo menos 20 anos pararam de fabricá-los). É fantástico notar a empolgação nos olhos daquelas crianças pobres. Ressuscitará o "futebol" um dia ?(...)
(1) [nota do tradutor: "jornalista é um termo antigo que se referia à profissão destinada a captar e produzir notícias nos veículos de divulgação de antigamente, algo parecido com o atual Producent] .
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Voltando ao nosso tempo e tentando responder a pergunta dos escritores de 2065 sobre o possível ressurgimento do “futebol”, posso dizer que atualmente, em pleno ano de 2113, há notícias de Monitores Sociais, dando conta da prática do velho esporte em distritos periféricos da African Dept e do South América Dept., especialmente entre os Workers C3 e C4. Também há relatos certificados confirmando a existência de torneios nas colônias penais de Alto Xingú e Atacama, bem como foram reconhecidas mais de cem Comunidades de Interesse Compartilhado sobre o “futebol ancestral” na Rede Mundial.
Não seria errado dizer que o futebol nunca morreu.
Esse mergulho fez com que eu percebesse um vislumbre da alma do antigo soccer, e por isso abateu-se sobre mim uma estranha nostalgia de algo que não vivi. Aquele jogo tão simples e tão suscetível às fraquezas humanas, com seus defeitos, conflitos e injustiças, me faz lembrar a sociedade humana do jeito que ela sempre foi. Qualquer um podia jogar futebol. Bastava uma bola (ou algo parecido com uma), um pequeno espaço e só. Crianças jogavam com bolas de meia ou embalagens de refrigerante vazias. Simples, não?
E nós, caros assinantes, o que precisaríamos para jogar hoje o NewSoccer™ se assim desejássemos ? Resposta: um protocolo de procedimentos, incluindo frequentar um clube franqueado, ser assistido por profissional registrado na NSL, adquirir todo o equipamento individual nas lojas oficiais, submeter-se a exames periódicos para evitar responsabilizações jurídicas ao Clube, assinar contratos de associação... etc. Muitos dólares depois, provavelmente concluiríamos que o jogo é complicado e caro demais para amadores. Nosso equipamento seria descartado na logística reversa da NSL Store™ e voltaríamos humilhados para um Health Club ordinário.
Acho que algo de valioso se perdeu com o tempo na medida em que as coisas ficaram mais racionais e menos emotivas, e não foi só no "soccer". Não existem mais “times do coração”. Não há “alma” nos adeptos. Só entretenimento e negócios. Tudo mudou, mas acho que dentro de nós ainda existe um resquício daquilo que nos fazia sentir parte de uma comunidade em "batalha" contra "os outros" (cada século com seus mecanismos de agregação combativa). Quem sabe um retorno às origens nos faria bem? Que tal pessoas se reunindo em torno de uma equipe só pelo prazer de uma competição sadia, de batalhas com regras simples e sem sangue? [Não esqueço o olhar de empolgação das crianças que “torciam” com orgulho para seus “times” nos vídeos do baú de meu avô].
Sei que nos últimos 100 anos os valores e costumes da sociedade mudaram muito. É impossível cogitar que novamente existirá uma ligação afetiva entre os Soccer Fans e uma das equipes competidoras. Como sentir afeição por uma empresa? Como sentir-se parte de uma equipe que muda de nome a cada três ou seis anos ou entristecer-se quando a corporação perde um jogo para outra? [Não se consideram passionais legítimos os sentimentos advindos de ganhos e perdas nas Bolsas]. Então, quem sabe o velho futebol ressurja, com seus defeitos e virtudes, tão humanos?
Certamente estou muito distante da proposta inicial desse artigo, fato pelo qual me desculpo. Mas não tenham dúvidas caros assinantes que nós aqui do Brazil South Dept. – South America estamos ansiosos para que chegue logo o dia 08 de setembro de 2114, quando ocorrerá na novíssima "Camboriú Beach FOX-Wing Arena™" o primeiro jogo dos playoffs do CSA.Soccer™ (que atualmente é patrocinado por um banco, mas já trouxe em seu nome mineradoras, companhias de seguro e resorts, só para citar os mais recentes) contra o poderoso tricampeão mundial Energie Cottbus German Soccer™ (ex Staffel Crutts German Soccer). Prova disso é o sucesso total das cotas visuais já negociadas e dos recordes regionais nas bolsas. Creio que os fans do mundo inteiro vão apreciar o desenvolvimento do jogo, a disputa técnica e a habilidade dos mais bem treinados jogadores do mundo em busca de um título para nós inédito. Aliás, as lojas da NSL já estão abastecidas com os melhores produtos franqueados dessa decisão única.
Mas, sinto muito dizer, não haverá nem fração ínfima da emoção que os antigos "torcedores" sentiam quando seus times do coração entravam em campo sob uma chuva de papel picado. Não mesmo.
Curitiba,WD - Brazil, em 01 de Setembro de 2114.
[FIM DO TEXTO]
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3.
[REJOINDER]
Los Angeles, (Confederacion Americana) Dec.31. 2114.
FRON : Editorial Board - Latin American Division New Soccer World League Magazine ®.
TO: Mr. LIGHTHOUSE, Antonio - Affiliated Scribbler - Ref.nº 18102005.55.41.-BR-WD.
SUBJECT: Text "futebol old school" - History of Curitiba Southern AgroBank Soccer (CSA.Soccer)®
Caro Mr. Lighthouse, Antonio:
Agradecemos sua colaboração e informamos que seu texto encontra-se em nossa base de conteúdo para eventual aproveitamento editorial no futuro, caso em que - na forma legal - Vossa Senhoria será devidamente comunicado e remunerado. Outrossim, conforme Regulação nº 345/2097- RM, após o prazo de 02 (dois) anos a partir desta Comunicação, o produto a nós oferecido fica legalmente liberado de vínculo com a New Soccer World League Magazine™. /Não responder a essa mensagem/. Atenciosamente. Mr. Rodriguez, Avelar Symg. CPO – Latin America.
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